Li num livro...


Sobre o Amor Ágape:

"... um amor desinteressado, altruísta, que deixa o outro livre, que não quer controlar nem mudar o outro, mas o aceita como é."

(Isabelle Ludovico - O Resgate do Feminino)

domingo, 11 de abril de 2010

Memórias de uma Rosa...



Era tudo tão diferente... o mato não crescia solto...
as ervas daninhas não cresciam com tanto vigor...
o portão não estava enferrujado e nem presisando de pintura...
a grama sempre estava aparada...
os arbustos não eram tão retorcidos como aparentam agora...
as trepadeiras não cresciam com tanta libertinagem...
tudo ao redor era mais bonito...
até os dias nublados não pareciam tão sem graça, vazios e tristonhos...
em tudo havia 0 toque especial, de alguém especial: o Jardineiro...
Lembro bem do dia que ele entrou pela primeira vez pelo portão principal do jardim...
andar cuidadoso, sereno... mas determinado!... sabendo exatamente onde ir e o que fazer...
olhar gentil... toque delicado...
Tanto trabalho pra que o jardim ficasse em ordem... tanto esforço pra que um sonho começasse a ser realizado...
e nesse meio tempo, em meio a tantas flores maravilhosas, fui escolhida como "A Preferida do Jardineiro"...
era assim que outras flores me chamavam...
umas com ar de inveja e outras com admiração...
mas enfim... o cuidado era especial... o tempo dispensado para me regar, adubar e podar era diferenciado....
tudo para que de um simples botão, eu me tornasse uma bela Rosa...
Esse crescimento trouxe além de sedosas pétalas, muitos espinhos... característicos... indispensáveis para minha própria proteção... mas que escondia um perigo iminente: meus espinhos poderiam machucar alguém...
Jamais imaginei que meu amado Jardineiro poderia ser esse alguém...
Infelizmente, ele se machucou gravemente em meus espinhos...
Foi triste e doloroso ver meu bom Jardineiro ferido... e eu na ânsia de fazer algo pra ajudá-lo, acabava machucando-o ainda mais...
esse ciclo se repetiu algumas vezes até nos desvencilharmos e ele ir embora... ferido... machucado...
eu podia sentir a dor dele...
Ele se foi sem o tradicional "até amanhã"... e em meio a tanto nervosismo não percebi esse 'pequeno' detalhe...
Não voltou no dia seguinte...
imaginei que estivesse cuidando dos ferimentos causados por meus espinhos... fiquei ansiosa esperando que ele aparecesse a qualquer momento no portão, pra que eu pudesse pedir desculpas por tanta dor que meus espinhos lhe causaram...
mas ele não apareceu...
Dois dias se passaram... e ele não voltou... minha preocupação só aumentava.... e o olhar continuava fixo no portão... eu não podia perder a volta do Jardineiro... precisava daquele momento de perdão e reconciliação....
Três dias... e nada...
Uma semana....
Um mês...
Dois meses...
Três... Quatro... Cinco... Seis...
Sete meses...
Preocupação em ascendência... esperança decrescendo... e olhar ainda fixo no portão...
e sem poder fazer nada em relação ao jardim...
Ainda que pequena e decrescente, minha esperança é que ele volte...
pois, só o Jardineiro tem as ferramentas, adubos, vitaminas e água necessários e na medida certa pra fazer desse jardim o que ele sempre sonhou: o mais lindo jardim fechado do mundo!
Meus espinhos?... bom... eles ainda estão aqui... mas talvez o Jardineiro traga consigo algo que o proteja deles, ou algo que os tire de mim, ou ainda, algo que os torne menos pontiagudos...
(Por Quezia Mattos)